quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Os arrastões nos restaurantes de São Paulo

Sobre as reportagem “os arrastões nos restaurantes de São Paulo”, acho um absurdo vocês responsabilizarem a falta de seguranças e equipamentos nos estabelecimentos sem mencionarem que isso só ocorre por falta de segurança publica.
Não é só a rádio Jovem Pam que seque nesse equívoco no foco desse problema, pois, o setor da imprensa televisiva também os comete.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A construção do currículo escolar e a qualidade do ensino

Em entrevistas veiculadas nos últimos dias, o Ministro da Educação, Aloizio Mercadante, apresentou algumas ideias que pretende desenvolver em sua gestão, algumas delas voltadas à atualização profissional dos professores.
Considerando a época em que vivemos, a chamada era do conhecimento, com alto desenvolvimento da informática, da comunicação e de avançadas tecnologias, o ministro propõe que os professores sejam integrados a este estágio da sociedade do conhecimento, inclusive com a distribuição de tablets e do acesso a outros instrumentos tecnológicos. Considero que esta é uma medida importante e necessária, pois os professores precisam estar sintonizados com o seu tempo, ou estarão em desvantagem, em muitos aspectos, em relação aos próprios estudantes.
Outro aspecto abordado nas entrevistas do Ministro é a organização curricular da educação básico. No meu ponto de vista, debater o currículo escolar é uma necessidade permanente, hoje e sempre, não apenas em um momento determinado, frente a uma questão pontual.
Neste momento, fala-se em estabelecer um currículo mínimo nacional para a educação básica. O termo não é bom. Não há que adjetivar o currículo. Precisamos de uma organização curricular que seja capaz de atender aos anseios e necessidades de formação de nossas crianças e jovens, assegurando a qualidade do ensino. Tampouco devemos pensar um currículo nacional como uma camisa de força imposta aos sistemas e às escolas.
Quando se fala em qualidade do ensino, é preciso ter em conta que se trata de uma concepção mutável, de acordo com cada época. Lembro-me que no passado a qualidade do ensino era aferida por fatores como, por exemplo, a boa caligrafia do estudante. Havia aulas de caligrafia. Um bom aluno tinha letra bonita, era avaliado e recebia nota por isso. Poderia, inclusive, ser reprovado. Também a qualidade do ensino era associada ao bom comportamento dos estudantes, a que se atribuíam notas. Esta nota não reprovava, mas podia baixar a média. Já naquela época muitos de nós não nos enquadrávamos naquele “padrão de qualidade.”
Debater currículo e qualidade do ensino, portanto, significa pensar e repensar o conceito de qualidade na época atual e os pilares de uma organização curricular afinada com este conceito. Neste sentido, concordo que a leitura e a escrita permanecem sendo a base do currículo, o alicerce do processo educativo, pois sem a leitura e a escrita o menino não consegue sequer acompanhar as demais disciplinas.
Entretanto, a leitura e a escrita têm que ser pensadas em sua omnilateralidade, não como mera decodificação e simples alfabetização no seu sentido mais básico, qual seja, o de simplesmente conhecer e utilizar as letras do alfabeto. Devemos pensar a leitura e a escrita de acordo com a concepção freiriana, qual seja, a de que a leitura deve dar sentido às palavras, deve ser uma ferramenta para ler o mundo, para (re)interpretar a realidade, inserir-se nela.
Este é desafio de construir o currículo com o qual sonhamos. É preciso atualizar o conceito de leitura de acordo com o mundo atual, não desconectada da era da informática, da biotecnologia, dos avanços da comunicação e tantos outros. Neste sentido, Paulo Freire é mais que atual. Ele antecipou essa idéia da leitura como ferramenta para compreender o mundo, para compreender o tempo em que se vive, entender as coisas em sua natureza, sua diversidade e sua singularidade.
No debate curricular é preciso, portanto, atualizar as palavras de Paulo Freire; é preciso ler e reler seus ensinamentos para que possamos construir uma estrutura curricular e conteúdos que correspondam às necessidades dos nossos estudantes e da sociedade.
Alguns falam que é preciso formular um currículo que atenda às expectativas de aprendizagem dos estudantes. Mas quando se fala em expectativa, estamos falando de algo que se espera. Não se constrói um currículo a partir de expectativas. De um currículo não se espera; é mais do que isso. O currículo é dinâmico. Devemos estar no processo, construí-lo junto com nossos alunos, com a equipe escolar, por meio do conselho de escola, levando em conta os parâmetros nacionais, as normas do sistema, mas, sobretudo, a realidade concreta daquela comunidade e daqueles estudantes. A meta é a formação plena das crianças e jovens, para a continuidade dos estudos, para a cidadania, para a vida.
A construção e implementação de um currículo que seja instrumento para um ensino de qualidade devem se dar num ambiente dotado de tecnologia, de fácil acesso às informações e às fontes de pesquisa, de condições adequadas de trabalho, bibliotecas, salas adequadas com número de alunos de acordo com os padrões internacionais, jornada de trabalho correta, gestão democrática e outros elementos fundamentais ao processo educativo. É preciso, enfim, assegurar o padrão de qualidade a que se referem os artigos 206, 211 e 214 da Constituição Federal. Desta forma poderemos avançar. Do contrário, mais uma vez estaremos chovendo no molhado.
Maria Izabel Azevedo Noronha
Professora da rede estadual de ensino
Presidenta da APEOESP – Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo
Membro do Conselho Nacional de Educação
Membro do Fórum Nacional de Educação