domingo, 17 de outubro de 2010

À Propósito de Eleições - Cardeal Geraldo Majella Agnelo


É chegado o dia de eleições muito importantes para a vida de nossa nação. Não se trata de uma festa popular, quando cada um é chamado a escolher representantes para legislar ou governar em nome do povo a serviço de todo o povo.

Na cultura moderna, afirma-se a distinção entre dimensão política e dimensão ético-religiosa. O Estado democrático, salvo necessidade de ordem pública, não interfere na esfera das opções pessoais. Trata-se de uma evolução substancialmente positiva, conforme com a concepção cristã do homem. Ninguém deve ser discriminado em razão das suas próprias convicções. Os homens têm obrigação de procurar e de aceitar a verdade, mas devem fazê-lo livremente, pela educação e pelo diálogo, segundo a sua dignidade de pessoas e a sua natureza social.

A consciência deve ser respeitada, mesmo quando erra. “É necessário traçar uma linha, ou até construir um grande muro de separação entre o erro e a pessoa que erra, impugnando aquele e respeitando e amando esta”.

É tarefa da Igreja promover a formação das consciências adultas e responsáveis, dando assim uma contribuição preciosa para o bem da própria sociedade civil. É fácil adivinhar o que um forte sentido moral e uma viva consciência dos valores de dignidade da pessoa, liberdade, solidariedade, sacralidade da vida e estabilidade da família ajudam para a convivência pacífica.

Por vezes, a consciência cristã contesta algumas leis particulares; contudo, não pretende contestar o próprio Estado como tal; pelo menos, quando é democrático e respeita os direitos fundamentais da pessoa. A objeção de consciência, iluminando as limitações e os riscos de qualquer solução aprovada pela maioria, chama a atenção para o fato de que nem sempre o que é legal é também moral e, em suma, favorece o futuro crescimento humano da sociedade.

Os homens não podem ser forçados a agir contra a sua própria consciência, nem ser impedidos de agir em conformidade com ela, para que respeitem a ordem pública e a justiça.

A consciência é o lugar da responsabilidade e da liberdade pessoal na ação, porque é o lugar do diálogo com Deus, com a Sua Palavra de verdade. Portanto, não pode ser entendida de maneira subjetivamente fechada, ou como a própria fonte de verdade e de valores.

Perante o risco de um certo determinismo desresponsabilizante, ou do risco de um mero subjetivismo ético, a consciência cristã, educada e formada, põe-se como exercício autêntico de sábio discernimento, de opções livres e responsáveis; como espaço habitado pelo Espírito que nos liberta, não a partir do exterior, mas no mais profundo do coração, nos configura com Cristo para podermos escolher e agir como Ele.

Na encíclica “Centesimus Annus”, o Papa João Paulo II afirma: “A Igreja encara com simpatia o sistema da democracia, enquanto assegura a participação dos cidadãos nas opções políticas e garante aos governados a possibilidade quer de escolher e controlar os próprios governantes, quer de os substituir pacificamente, quando tal se torne oportuno; ela não pode portanto favorecer a formação de grupos restritos de dirigentes, que usurpam o poder do Estado a favor dos seus interesses particulares ou dos objetivos ideológicos. Uma autêntica democracia só é possível num Estado de direito e sobre a base de uma reta concepção da pessoa humana. Aquela exige que se verifiquem as condições necessárias à promoção quer dos indivíduos através da educação e da formação nos verdadeiros ideais, quer da “subjetividade” da sociedade, mediante a criação de estruturas de participação e co-responsabilidade” 46.

No sistema democrático, a autoridade política é responsável diante do povo. Os organismos representativos devem ser submetidos a um efetivo controle por parte do corpo social. Este controle é possível antes de tudo através de eleições livres, que permitem a escolha assim como a substituição dos representantes.

Bem-aventurado o político que sabe escutar, que sabe escutar o povo, antes durante e depois das eleições; que sabe escutar a própria consciência; que sabe escutar Deus na oração. Sua atividade brindará certeza, segurança e eficácia.

Cardeal Geraldo Majella Agnelo

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